Um estudo conduzido pela Fiocruz Minas constatou que metade dos pacientes que já foram diagnosticados com covid-19 apresentou sequelas que duraram mais de um ano. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), essas pessoas têm a síndrome chamada covid longa.
A pesquisa foi publicada na sexta-feira 6 na revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene e avaliou os efeitos da doença em 646 pacientes que tiveram covid-19, durante 14 meses. Desse total, 324 (pouco mais de 50%) apresentaram sintomas de pós-infecção.
Ao todo, os pesquisadores contabilizaram 23 sintomas, depois do término da infecção aguda. A fadiga, caracterizada por um cansaço excessivo e dificuldade para realizar atividades do dia a dia, foi a principal reclamação, sendo mencionada por 115 pessoas (pouco mais de 35%).
As outras sequelas relatadas foram:
- tosse contínua: 110 pessoas (quase 35%);
- dificuldade para respirar: 86 pessoas (pouco mais de 25%);
- perda do olfato ou paladar: 65 pessoas (cerca de 20%);
- dores de cabeça frequentes: 56 pessoas (17%)
- insônia: 26 pessoas (8%);
- ansiedade: 23 pessoas (7%)
- tontura: 18 pessoas (pouco mais de 5%);
- trombose: 20 pessoas (6%).
A pesquisadora Rafaella Fortini, coordenadora da pesquisa, ressaltou que todos os sintomas descritos acima começaram depois que os pacientes testaram positivo para covid-19, e que muitos dos sintomas continuaram por 14 meses, menos a trombose, que foi devidamente tratada, durando cinco meses.
“Há casos em que o paciente continua sendo monitorado, pois os sintomas permaneceram para além dos 14 meses”, explicou Rafaella, em entrevista ao portal da Fiocruz nesta quarta-feira, 11. “Nos casos em que o paciente, além de ter ficado com covid-19, possui algumas comorbidades, como diabetes, câncer, doença pulmonar, entre outros, aumentou a possibilidade das sequelas”.
Gradações da covid longa
Os sintomas de pós-infecção foram constatados em três formas diferentes: grave, moderada e leve. A forma grave afetou 260 pessoas — desses, 86 pacientes (33%) tiveram sintomas duradouros. Já a categoria moderada atingiu 57 pessoas — desse total 43 (75%) apresentaram sequelas. Na forma leve foram constatados 329 pacientes — desses, quase 200 pessoas (cerca de 60%) apresentaram sintomas constantes.
Os pacientes citados no estudo foram atendidos no pronto-socorro do Hospital da Baleia e no Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, que são referência em covid-19, em Belo Horizonte. Os pacientes foram atendidos entre abril de 2020 e março de 2021 e todos fizeram o teste RT-qPCR, exame em que são coletadas com um cotonete amostras de secreção do nariz e da garganta do paciente, para detectar fragmentos do vírus.
A faixa etária dos participantes variou entre 18 e 91 anos, sendo pouco mais de 50% do sexo feminino. Dos 646 pacientes, somente cinco foram vacinados contra covid-19. Desses, três desenvolveram a covid longa.
Segundo a pesquisadora Rafaella Fortini, a covid longa deve ter acompanhamento médico. “Há uma tendência de procurar tratamento apenas para as sequelas mais graves, como a trombose. Entretanto, é fundamental buscar ajuda médica para as outras questões, pois elas também podem interferir bastante na qualidade de vida das pessoas”, afirma.
Revista Oeste